Para atletas de ultra endurance, que enfrentam esforços prolongados e intensos, os suplementos alimentares são essenciais para otimizar o desempenho, a recuperação e a saúde geral. Os suplementos mais relevantes dependem do tipo de prova, da dieta do atleta e das necessidades individuais, mas apresentamos aqui os principais, com base em artigos científicos.

Para cada tipo de suplemento, é apresentado o racional para a sua utilização, recomendações de consumo e os artigos científicos onde nos baseámos para ober estas informações.


Hidratos de Carbono (em gel, bebida ou pó)

Porquê?

Durante eventos de ultra endurance, as reservas de glicogénio esgotam-se rapidamente. Suplementos de hidratos de carbono fornecem energia rápida e sustentada.

Exemplo

Géis energéticos, maltodextrina, bebidas isotónicas.

Como usar?

Consumir 30-90 g de hidratos de carbono por hora durante o exercício, dependendo da intensidade e duração. Combinar fontes como glicose e frutose para melhor absorção.

Referências científicas

Burke, L. M., Hawley, J. A., Wong, S. H., & Jeukendrup, A. E. (2011). Carbohydrates for training and competition. Journal of Sports Sciences, 29(sup1), S17-S27.

Jeukendrup, A. E. (2014). A step towards personalized sports nutrition: carbohydrate intake during exercise. Sports Medicine, 44(Suppl 1), 25-33.


Electrólitos (sódio, potássio, magnésio)

Porquê?

A perda de electrólitos pelo suor pode causar cãibras, fadiga e desidratação. O sódio é particularmente crítico em provas longas.

Exemplo

Cápsulas de sal (ex.: SaltStick), bebidas com electrólitos, comprimidos efervescentes.

Como usar?

Ingerir 500-1000 mg de sódio por hora, ajustando conforme o clima e a taxa de suor. Testar durante treinos para evitar desconforto gastrointestinal.

A suplementação de electrólitos deve ser acompanhada de ingestão adequada de água (500-1000 ml/hora, ajustado ao clima e suor).

Referências científicas

Sawka, M. N., Burke, L. M., Eichner, E. R., Maughan, R. J., Montain, S. J., & Stachenfeld, N. S. (2007). American College of Sports Medicine position stand: Exercise and fluid replacement. Medicine & Science in Sports & Exercise, 39(2), 377-390.

Hoffman, M. D., & Stuempfle, K. J. (2016). Sodium supplementation and exercise-associated hyponatremia during prolonged exercise. Medicine & Science in Sports & Exercise, 48(9), 1650-1658.


Proteína (em pó ou BCAA)

Porquê?

Durante esforços prolongados, o corpo pode degradar tecido muscular para obter energia. A proteína ou aminoácidos (como BCAA ou EAA) ajudam a minimizar o catabolismo muscular.

Exemplo

Proteína whey isolada, aminoácidos essenciais (EAA), leucina.

Como usar?

Consumir 10-20 g de proteína a cada 3-4 horas durante eventos muito longos ou logo após para recuperação. BCAA (5-10 g) pode ser usado durante a prova, mas EAA é mais eficaz.

Referências científicas

Tipton, K. D., & Wolfe, R. R. (2004). Protein and amino acids for athletes. Journal of Sports Sciences, 22(1), 65-79.

Saunders, M. J., Luden, N. D., & Herrick, J. E. (2007). Consumption of an oral carbohydrate-protein gel improves cycling endurance and prevents postexercise muscle damage. Journal of Strength and Conditioning Research, 21(3), 678-684.


Cafeína

Porquê?

Melhora a concentração, reduz a percepção de esforço e pode aumentar a oxidação de gordura, poupando glicogénio.

Exemplo

Géis com cafeína, cápsulas, pastilhas energéticas.

Como usar?

Doses de 3-6 mg/kg de peso corporal, divididas em pequenas quantidades (ex.: 50-100 mg/hora). Evitar doses altas no final para não prejudicar o sono pós-prova.

Referências científicas

Goldstein, E. R., Ziegenfuss, T., Kalman, D., Kreider, R., Campbell, B., Wilborn, C., … & Antonio, J. (2010). International society of sports nutrition position stand: caffeine and performance. Journal of the International Society of Sports Nutrition, 7(1), 5.

Southward, K., Rutherfurd-Markwick, K. J., & Ali, A. (2018). The effect of acute caffeine ingestion on endurance performance: A systematic review and meta-analysis. Sports Medicine, 48(8), 1913-1928.


Beta-alanina

Porquê?

Aumenta os níveis de carnosina muscular, ajudando a neutralizar a acidez durante esforços intensos, o que pode melhorar a resistência.

Exemplo

Suplementos em pó ou cápsulas.

Como usar?

3-6 g/dia por 4-8 semanas antes do evento. Pode causar formigueiro (parestesia), pelo que se devem dividir as doses.

Referências científicas

Saunders, B., Elliott-Sale, K., Artioli, G. G., Swinton, P. A., Dolan, E., Roschel, H., … & Gualano, B. (2017). β-alanine supplementation to improve exercise capacity and performance: a systematic review and meta-analysis. British Journal of Sports Medicine, 51(8), 658-669.

Hobson, R. M., Saunders, B., Ball, G., Harris, R. C., & Sale, C. (2012). Effects of β-alanine supplementation on exercise performance: a meta-analysis. Amino Acids, 43(1), 25-37.


Creatina

Porquê?

Embora mais associada a desportos de força, a creatina pode melhorar a recuperação muscular e a capacidade de esforços repetidos em treinos intensos.

Exemplo

Monohidrato de creatina.

Como usar?

3-5 g/dia, idealmente após o treino ou com uma refeição rica em hidratos de carbono.

Referências científicas

Cooper, R., Naclerio, F., Allgrove, J., & Jimenez, A. (2012). Creatine supplementation with specific view to exercise/sports performance: an update. Journal of the International Society of Sports Nutrition, 9(1), 33.

Rawson, E. S., & Volek, J. S. (2003). Effects of creatine supplementation and resistance training on muscle strength and weightlifting performance. Journal of Strength and Conditioning Research, 17(4), 822-831.


Ómega-3

Porquê?

Reduz a inflamação causada por longos períodos de exercício, promovendo recuperação e saúde articular.

Exemplo

Óleo de peixe ou algas (EPA/DHA).

Como usar?

1-2 g de EPA+DHA por dia, com alimentos.

Referências científicas

Mickleborough, T. D. (2013). Omega-3 polyunsaturated fatty acids in physical performance optimization. International Journal of Sport Nutrition and Exercise Metabolism, 23(1), 83-96.

Jouris, K. B., McDaniel, J. L., & Weiss, E. P. (2011). The effect of omega-3 fatty acid supplementation on the inflammatory response to eccentric strength exercise. Journal of Sports Science & Medicine, 10(3), 432-438.


Vitamina D

Porquê?

A vitamina D suporta a saúde óssea e imunitária. Atletas com deficiência podem ter o desempenho comprometido.

Exemplo

Suplementos de vitamina D3.

Como usar?

1000-4000 UI/dia, dependendo dos níveis séricos.

Referências científicas

Cannell, J. J., Hollis, B. W., Sorenson, M. B., Taft, T. N., & Anderson, J. J. (2009). Athletic performance and vitamin D. Medicine & Science in Sports & Exercise, 41(5), 1102-1110.

Close, G. L., Russell, J., Cobley, J. N., Owens, D. J., Wilson, G., Gregson, W., & Morton, J. P. (2013). Assessment of vitamin D concentration in non-supplemented professional athletes and healthy adults during the winter months in the UK: implications for skeletal muscle function. Journal of Sports Sciences, 31(4), 344-353.


Magnésio

Porquê?

O magnésio auxilia na função muscular e na redução de cãibras. Atletas com deficiência podem ter o seu desempenho comprometido.

Exemplo

Citrato ou glicinato de magnésio.

Como usar?

200-400 mg/dia, preferencialmente à noite.

Referências científicas

Zhang, Y., Xun, P., Wang, R., Mao, L., & He, K. (2017). Effectiveness of magnesium supplementation on muscle cramps: a systematic review. European Journal of Nutrition, 56(8), 2483-2492.

Nielsen, F. H., & Lukaski, H. C. (2006). Update on the relationship between magnesium and exercise. Magnesium Research, 19(3), 180-189.


Antioxidantes (vitamina C, E ou polifenóis)

Porquê?

O stress oxidativo de provas longas pode ser mitigado por antioxidantes, embora o uso excessivo possa interferir na adaptação ao treino.

Exemplo

Suplementos de vitamina C (500 mg) ou extratos de frutos (ex.: extrato de cereja).

Como usar?

Uso moderado (ex.: 500 mg de vitamina C após o treino) ou alimentos ricos em antioxidantes.

Referências científicas

Gross, M., Baum, O. & Hoppeler, H. (2011) Antioxidant supplementation and endurance training: Win or loss? European Journal of Sport Science, 11: 1, 27 — 32

Braakhuis, A. J., & Hopkins, W. G. (2015). Impact of dietary antioxidants on sport performance: A review. Sports Medicine, 45(7), 939-955.