
A qualidade nutricional dos alimentos modernos tem vindo a diminuir devido principalmente a três fatores:
- Práticas agrícolas intensivas;
- Processamento industrial;
- Alterações nos padrões alimentares globais.
Estes fatores leva a deficiências de micronutrientes essenciais, sendo necessário complementar a alimentação principalmente das populações com necessidades específicas, como atletas, idosos, grávidas ou indivíduos com dietas restritivas. Essa complementação pode ser feita através de suplementos alimentares disponíveis sob diversas formas.
Este artigo explora as causas da insuficiência nutricional dos alimentos modernos e a importância da suplementação, tendo como base evidências científicas apresentadas nos estudos referenciados no texto.
A Insuficiência Nutricional dos Alimentos Modernos
De forma a maximizar o lucro, a agricultura moderna prioriza a produtividade e a resistência das culturas, normalmente em detrimento do seu valor nutricional. Solos esgotados por práticas intensivas, como as monoculturas e o uso excessivo de fertilizantes químicos, produzem alimentos com menor teor de vitaminas e minerais. Um estudo de Davis et al. (2004) analisou dados do USDA (U.S. Department of Agriculture) e revelou que frutas e vegetais cultivados entre 1950 e 1999 apresentaram declínios significativos em nutrientes, como a vitamina C (redução de até 30%), o ferro e o magnésio. Esta diminuição é atribuída à seleção de variedades de frutas e vegetais de alto rendimento, que crescem mais rapidamente mas que acumulam menos micronutrientes.
Outro problema é o excessivo processamento alimentar que se tem também vindo a acentuar. O refinamento de cereais, como o trigo e o arroz, remove a camada externa rica em fibras, vitaminas do complexo B e minerais como zinco e magnésio. Segundo Welch & Graham (2004), até 75% dos micronutrientes podem ser perdidos no processamento dos grãos de cereais. A pasteurização, o armazenamento prolongado e o transporte de alimentos frescos também reduzem o teor de nutrientes sensíveis, como a vitamina C e o folato (Holick, 2007). Além disso, a adição de açúcares, gorduras processadas e aditivos em alimentos ultraprocessados dilui ainda mais o valor nutricional, enquanto aumenta o consumo de calorias nutricionalmente vazias.

Os hábitos alimentares modernos, caracterizados por uma dependência crescente dos referidos alimentos ultraprocessados, contribuem significativamente para deficiências nutricionais. Popkin et al. (2012) descrevem a “transição nutricional global”, onde dietas ricas em alimentos industrializados, pobres em micronutrientes como ferro, zinco, ómega-3 e vitaminas A e D, predominam em países desenvolvidos e em desenvolvimento. A redução da biodiversidade alimentar, impulsionada pela monocultura e pela globalização, limita o acesso a fontes diversificadas de nutrientes. Por exemplo, o consumo de peixes gordos, ricos em ómega-3, diminuiu, enquanto a urbanização reduz a exposição solar, essencial para a síntese endógena de vitamina D, especialmente em regiões como Portugal durante o inverno.
Outros fatores, como a poluição do solo e a contaminação dos alimentos por pesticidas, podem interferir na capacidade das plantas absorverem minerais, enquanto as alterações climáticas afetam a composição nutricional das culturas. Um estudo de Myers et al. (2014) mostrou que o aumento de dióxido de carbono na atmosfera reduz o teor de zinco e ferro em cereais como o arroz, impactando populações dependentes destes alimentos.
Nutrientes críticos e necessidades de suplementação
Abaixo, detalham-se alguns nutrientes críticos e a sua relevância, com base em estudos científicos, e as respetivas recomendações de suplementação, tendo como objetivo a compensação de potenciais insuficiências nutricionais, especialmente em grupos com necessidades especiais ou condições específicas (atletas, idosos, grávidas ou indivíduos com dietas restritivas).
Vitamina D: Essencial para a saúde óssea, função muscular e imunidade, a vitamina D é frequentemente deficiente em populações com baixa exposição solar, como em Portugal durante o inverno. Holick (2007) destaca que a síntese cutânea de vitamina D é insuficiente em latitudes acima de 35º, e dietas modernas oferecem poucas fontes naturais (ex.: peixes gordos, gema de ovo). A deficiência está associada a maior risco de fraturas, fraqueza muscular e infeções. Cannell et al. (2009) recomendam 1000-4000 UI/dia para manter níveis séricos ótimos (30-50 ng/mL), especialmente para atletas, que enfrentam stress musculoesquelético elevado, e idosos, com menor capacidade de síntese.
Magnésio: Este mineral é crucial para mais de 300 reações enzimáticas, incluindo a produção de energia e a função muscular. A agricultura intensiva reduziu o teor de magnésio em vegetais, e o consumo de alimentos processados agrava a deficiência. Nielsen & Lukaski (2006) indicam que doses de 200-400 mg/dia podem prevenir cãibras, fadiga e disfunções metabólicas, particularmente em atletas de endurance ou indivíduos sob stress físico. A suplementação com formas biodisponíveis, como citrato ou glicinato, é eficaz e segura.

Ómega-3: Os ácidos gordos EPA e DHA, encontrados em peixes gordos, são escassos em dietas modernas devido ao baixo consumo de pescado. Têm propriedades anti-inflamatórias, melhoram a saúde cardiovascular e aceleram a recuperação muscular. Mickleborough (2013) sugere que 1-2 g/dia de EPA+DHA reduzem a inflamação em atletas e protegem contra doenças crónicas. Para vegetarianos, suplementos à base de algas são uma alternativa viável.
Vitamina B12: Indispensável para a formação de glóbulos vermelhos e a função neurológica, a vitamina B12 está ausente em dietas veganas e é menos biodisponível em alimentos fortificados. Pawlak et al. (2013) estimam que até 86% dos vegetarianos apresentam deficiência, recomendando suplementação de 250-1000 µg/dia para prevenir anemia e danos neurológicos.
Ferro e Zinco: A depleção destes minerais em solos agrícolas reduz o seu teor em vegetais e cereais. O ferro é crítico para o transporte de oxigénio, enquanto o zinco suporta a imunidade e a reparação celular. Beard & Tobin (2000) recomendam suplementação em mulheres, atletas e vegetarianos, que têm maior risco de deficiência devido a perdas menstruais, suor ou baixa biodisponibilidade em dietas vegetais.
Considerações e Personalização da Suplementação
Embora a suplementação seja uma ferramenta valiosa, não substitui uma dieta equilibrada. O uso indiscriminado pode levar a excessos, como hipervitaminose D ou toxicidade por ferro, e interações com medicamentos. Por isso, a suplementação deve ser personalizada com base em análises bioquímicas e orientação de nutricionistas. Testes de níveis séricos (ex.: vitamina D, ferritina) ajudam a identificar deficiências específicas, garantindo doses adequadas, como suportado por Holick (2007) e Beard & Tobin (2000). Além disso, a qualidade dos suplementos é crucial, devendo-se optar por marcas certificadas para assegurar segurança e eficácia.
A educação alimentar também desempenha um papel central. Combinar suplementos com alimentos ricos em nutrientes, como vegetais de folha verde, frutos secos e peixes, maximiza os benefícios, conforme apontado por Popkin et al. (2012). Estratégias como a fortificação de alimentos e a diversificação da dieta podem reduzir a dependência de suplementos, mas, enquanto as práticas agrícolas e alimentares modernas persistirem, a suplementação permanecerá essencial para muitas populações, um ponto reforçado por Davis et al. (2004).
Conclusão
A insuficiência nutricional dos alimentos modernos, resultante de práticas agrícolas, processamento e mudanças nos hábitos alimentares, compromete a ingestão adequada de micronutrientes. Suplementos como vitamina D, magnésio, ómega-3, vitamina B12, ferro e zinco são cruciais para corrigir deficiências, especialmente em grupos de risco.
Com orientação profissional e uma abordagem integrada, a suplementação pode otimizar a saúde e o desempenho desportivo, compensando as limitações do sistema alimentar atual.
Referências
Holick, M. F. (2007). Vitamin D deficiency. New England Journal of Medicine, 357(3), 266-281.